Caros leitores,
deixamos aqui a imagem do selo alusivo a Francisco Vieira (1765-1805) que no próximo dia 13 de maio perfaz 250 anos do seu nascimento e que os CTT decidiram homenagear incluindo-o na emissão Vultos da História e da Cultura que foi colocada em circulação a 31 de março de 2015.
Nesta emissão poderão estão inclusos selos alusivos a Barbosa do Bocage, Ramalho Ortigão, Agostinho Ricca, Rui Cinatti e Frederico George.
"Francisco Vieira, filho de Domingos Francisco Vieira, conhecido droguista e pintor paisagista morador no Campo do Olival, e de Maria Joaquina, nasceu no Porto a 13 de Maio de 1765. Era irmão de Ana Paulina e de António José Vieira.
Não existem muitas referências documentais sobre a sua juventude. Pensa-se que terá aprendido a pintar com o pai e com os pintores João Glama Strobërle (1708-1792) e Jean Pillment (1728-1808) e que terá frequentado a Aula de Debuxo e Desenho do Porto.
A aprendizagem no ensino oficial iniciou-se em 1787, quando a 15 de Fevereiro se inscreveu como aluno extraordinário na recém-criada Aula Régia de Desenho, em Lisboa.
Dois anos mais tarde prosseguiu os estudos em Roma, financiado pela família e pela Feitoria Inglesa ou, muito provavelmente, pela Companhia Geral de Agricultura e das Vinhas do Alto Douro.
Nos anos que passou em Roma foi discípulo de Domenico Corvi (1721-1803) e obteve o 1.º prémio de Desenho no concurso da Academia do Nu do Capitólio (1789). Trocou inúmeras cartas com o seu patrono, D. João de Mello e Castro, embaixador português em Roma, e com o secretário deste, Augusto Molloy. Através desta correspondência ficámos a saber, por exemplo, que auferiu de uma pensão régia de 8 escudos romanos, aumentada em quatro escudos a partir de 1791 e que deu aulas a D. Isabel Juliana de Sousa Coutinho Monteiro Paim, esposa do embaixador português.
Entre Junho de 1793 e 1796 passou uma temporada em Parma para pintar e estudar a obra de Antonio da Corregio (c. 1489-1534). Durante este período de tempo travou amizade com o impressor Giambattista Bodoni (1740-1813) e com o gravador de Bolonha, Francesco Rosaspina (1762-1841), com quem veio a trocar abundante correspondência. Foi de igual modo nesta época que conheceu o pintor Thomson, seu futuro companheiro de viagem a Nápoles.
Uma das obras que pintou nesta altura foi "Cabeça de velho" (1793), apresentada na sua eleição para "Accademico Professore di Pittura" da Academia de Belas Artes de Parma (10 de Maio de 1794). Viajou pelos arredores de Parma, Cremona, Colorno e Piacenza, onde o poeta Giampaolo Maggi lhe dedicou um livro. Visitou os centros culturais e artísticos de Itália, da Alemanha e de Inglaterra, que marcaram profundamente o seu trabalho.
Francisco Vieira integrou o círculo social da família ducal de Parma, assim como o meio artístico e aristocrático de Bolonha, tendo chegado a ingressar na Academia Clementina (Abril de 1795) por influência de Rosaspina.
Fixou-se em Londres a partir de 1789, onde, numa fase inicial, residiu na casa de Mello e Castro. Foi aqui que conheceu o famoso pintor Joshua Reynolds (1723-1792) e o gravador Francesco Bartolozzi (1725-1815).
Durante a sua estadia em Londres participou nas edições de 1798 e 1799 da Exposição da Royal Academy of Arts, recebeu a encomenda de pinturas para a nova igreja da Venerável Ordem Terceira de S. Francisco, do Porto e apresentou a Bodoni o projecto da publicação de uma obra sobre Camões. A 9 de Julho de 1799 casou com Maria Fabbri, uma bolonhesa viúva de um aluno de Bartolozzi e depois do casamento passou a viver na casa de Bartolozzi, em North End, Fulham.
Em 1800, depois do seu regresso a Portugal, foi contratado pela Junta da Administração da Companhia Geral de Agricultura e das Vinhas do Alto Douro como professor da Aula de Desenho da Academia Real de Marinha e Comércio da Cidade do Porto (aviso régio de 20 de Dezembro), passando a auferir o ordenado de 60$000 reis.
Entre 1801 e 1802 trabalhou em Lisboa nas ilustrações de uma edição de "Os Lusíadas", promovida por D. Rodrigo de Sousa Coutinho (1801-1802).
Em Junho de 1802 iniciou as suas funções como professor da Aula de Desenho da academia portuense, embora entre Novembro desse ano e Junho do ano seguinte tivesse sido substituído pelo seu pai, Domingos Vieira. A 1 de Julho de 1803, Francisco Vieira foi nomeado director da Academia Real de Marinha e Comércio da Cidade do Porto.
Após a morte do pai, em 1803, os serviços que este prestava na Academia da Marinha e Comércio passaram a ser desempenhados por António José Vieira Júnior, irmão de Francisco Vieira.
O pintor adoeceu gravemente em 1805 enquanto pintava o quadro "Duarte Pacheco defendendo o passo de Cambalão em Cochim" para a Casa das Descobertas do Paço de Mafra. Procurou curar-se no Funchal, mas sem sucesso. Aqui faleceu, vítima de tuberculose, a 12 de Maio de 1805, poucos dias antes de completar 40 anos de idade.
Vieira Portuense, como ficou conhecido Francisco Vieira para se distinguir de Vieira Lusitano, artista coevo de Lisboa, foi o mais viajado dos artistas portugueses do seu tempo, estudando na Europa onde conviveu com obras de grandes mestres e com os mais relevantes artistas e mecenas. Homem culto e poliglota, Francisco Vieira regressou ao país para partilhar com Domingos Sequeira, seu rival, o estatuto de pintor do regente D. João VI.
Artista da tradição barroca e rococó que evoluiu para composições neoclássicas e neo-romântica, deixou-nos telas memoráveis de diversos géneros pictóricos: temas religiosos ("S. João Mostrando o Messias", "Morte de Santa Margarida de Cortona", "Rainha D. Isabel dando esmolas", etc.), retratos (do bispo Adeodato Turchi, de Francesco Martin y Lopez, de Carolina Maria Teresa de Bourbon, de Maximiliano da Saxónia, da duquesa Maria Amália de Parma, do Padre Guilherme Archer), paisagens, alegorias, cenas mitológicas ("Latona e os camponeses da Lícia", pertença da Câmara Municipal do Porto, "Banho de Diana", Galeria Nacional de Parma, "A Pintura", Museu Nacional de Arte Antiga), cenas históricas, como a "Fuga de Margarida de Anjou", cópias de artistas consagrados, gravuras e, ainda, álbuns de desenhos e de viagens.
Em 1906, no primeiro centenário da sua morte, a obra de Vieira Portuense foi objecto de uma exposição promovida pela Sociedade de Belas Artes e por personalidades do Porto, a qual se realizou na Sala de Concertos do Teatro S. João. Em 2001, no ano da capital Europeia da Cultura, foi de novo homenageado através da exposição inaugural dos novos e qualificados espaços destinados a exposições temporárias"
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