segunda-feira, 16 de outubro de 2023

Empreita de Palma e palmeira-anã em selo postal da emissão filatélica Etnobotânica

 


A empreita de palma consiste no entrançar de “tiras ripadas” da folha da palmeira-anã, em longas “fitas”, e é um dos elementos mais enraizados na cultura material algarvia. Era utilizada na realização de artefactos do quotidiano rural, no acondicionamento e transporte de bens e alimentos, em objetos para uso doméstico, nos trabalhos agrícolas, na pesca e em alguns objetos de uso pessoal.

Foi uma atividade económica relevante no Algarve, desde o século XVI e até meados do século XX, como está demonstrado em diferentes registos históricos e pautas alfandegárias, que testemunham a importância desta atividade enquanto produto de exportação. Mas também como produção em série orientada para o turismo e para o embalamento e transporte de mercadoria alimentar para exportação, como os figos secos. «Nos diversos discursos sobre a região — memórias, descrições, corografias, monografias — do séc. XVI em diante são recorrentes referências àquela que no Algarve quinhentista era já uma indústria próspera.» (OLIVEIRA, 2013).

A matéria-prima (as folhas da palmeira-anã) é abundante e espontânea na região e por isso a produção de empreita de palma prospera. Inicialmente como complemento ao trabalho agrícola, juntamente com a produção da empreita de esparto, usada para os artefactos mais grosseiros, destinados a usos mais exigentes como o trabalho nas salinas ou o transporte de cargas pesadas no trabalho agrícola. A empreita de palma era produzida maioritariamente por mulheres, a par das lides domésticas, com maior incidência no inverno. O termo “empreita” ficou ligado a esta arte por ter sido, em tempos, paga em função da quantidade produzida por dia – pago à “empreitada” (BRANCO; SIMÃO, 1997)

prática numa escala doméstica foi gradualmente profissionalizando-se e, no início do século XX, apareceram espaços de produção e comercialização exclusivamente dedicados à empreita de palma. Um dos exemplos mais conhecidos é a Casa da Empreita, em Estômbar, fundada em 1916 por Margarida Vasconcelos  (SANCHO 2011). A iniciativa torna-se relevante em produção e inovação, apresentando continuamente modelos novos e chega a receber um prémio internacional em 1926. Outro é Loulé, onde a empreita era necessária para embalar os frutos secos para exportação e onde apareceram, na segunda metade do século, os primeiros armazenistas de revenda de artigos artesanais.

 modo de produção dominante pouco foi alterado ao longo dos anos. No início do processo, as folhas de palma são secas ao ar e depois ripadas pelas nervuras, resultando em “tiras” que variam de largura, em função do tipo de trabalho que se pretende. A “empreita” consiste na produção de longas “fitas” feitas a partir das tiras de folha entrançadas, de diversas larguras. Cada fita é arrumada em rolo à medida que é produzida, atingindo vários metros de comprimento. Tradicionalmente, as fitas são cosidas com “baracinha” ou “tamissa”, ou com tiras de palma, para dar a forma do objeto pretendido, criando um tecido contínuo com uma trama diagonal (BRANCO; SIMÃO, 1997).

Texto retirado de: https://programasaberfazer.gov.pt/arte/empreita-de-palma 


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