A empreita de palma consiste no entrançar de
“tiras ripadas” da folha da palmeira-anã, em longas “fitas”, e é um dos
elementos mais enraizados na cultura material algarvia. Era utilizada na
realização de artefactos do quotidiano rural, no acondicionamento e transporte
de bens e alimentos, em objetos para uso doméstico, nos trabalhos agrícolas, na
pesca e em alguns objetos de uso pessoal.
Foi uma atividade económica relevante no Algarve,
desde o século XVI e até meados do século XX, como está demonstrado em
diferentes registos históricos e pautas alfandegárias, que testemunham a
importância desta atividade enquanto produto de exportação. Mas também como
produção em série orientada para o turismo e para o embalamento e transporte de
mercadoria alimentar para exportação, como os figos secos. «Nos diversos
discursos sobre a região — memórias, descrições, corografias, monografias — do
séc. XVI em diante são recorrentes referências àquela que no Algarve
quinhentista era já uma indústria próspera.» (OLIVEIRA, 2013).
A matéria-prima (as folhas da palmeira-anã) é abundante e
espontânea na região e por isso a produção de empreita de palma prospera.
Inicialmente como complemento ao trabalho agrícola, juntamente com a produção
da empreita de esparto, usada para os artefactos mais grosseiros, destinados a
usos mais exigentes como o trabalho nas salinas ou o transporte de cargas
pesadas no trabalho agrícola. A empreita de palma era produzida
maioritariamente por mulheres, a par das lides domésticas, com maior incidência
no inverno. O termo “empreita” ficou ligado a esta arte por ter sido, em
tempos, paga em função da quantidade produzida por dia – pago à “empreitada”
(BRANCO; SIMÃO, 1997)
prática numa escala doméstica foi gradualmente
profissionalizando-se e, no início do século XX, apareceram espaços de produção
e comercialização exclusivamente dedicados à empreita de palma. Um dos exemplos
mais conhecidos é a Casa da Empreita, em Estômbar, fundada em 1916 por
Margarida Vasconcelos (SANCHO 2011). A iniciativa torna-se relevante em
produção e inovação, apresentando continuamente modelos novos e chega a receber
um prémio internacional em 1926. Outro é Loulé, onde a empreita era necessária
para embalar os frutos secos para exportação e onde apareceram, na segunda metade
do século, os primeiros armazenistas de revenda de artigos artesanais.
modo de produção dominante
pouco foi alterado ao longo dos anos. No início do processo, as folhas de palma
são secas ao ar e depois ripadas pelas nervuras, resultando em “tiras” que
variam de largura, em função do tipo de trabalho que se pretende. A “empreita”
consiste na produção de longas “fitas” feitas a partir das tiras de folha
entrançadas, de diversas larguras. Cada fita é arrumada em rolo à medida que é
produzida, atingindo vários metros de comprimento. Tradicionalmente, as fitas
são cosidas com “baracinha” ou “tamissa”, ou com tiras de palma, para dar a
forma do objeto pretendido, criando um tecido contínuo com uma trama diagonal (BRANCO;
SIMÃO, 1997).
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